Um Mês precisei para refrescar as minhas memórias, e aliviar a artrite que ganhei ao longo dos anos nas mãos, acontecimento perturbante para uma recém escritora erótica.
Em um Mês a malta perde o ritmo das leituras eróticas, e como algumas queixas foram debatidas pelo atraso das escritas, fiz um esforço e recomeçei a escrever novamente.
Sem mais demoras, depois da longa descrição do ambiente da mais velha profissão do mundo, com hesitação nos termos das funções da mesma, continuarei o assunto último, que publiquei.
Antes disso, e a propósito do assunto, gostava de relembrar as mudanças que esta profissão tem sofrido. Em todos os aspectos. No meu tempo havia casas propositadas para estes fins, e não se avistavam estas mulheres na rua procurando clientes. Hoje em dia as coisas são diferentes. A pesar de continuarem a haver casas da vida, podemos encontrar, se soubermos onde procurar, estas mulheres no centro das grandes cidades. Talvez como os taxistas esperam junto dos aeroportos, as prostitutas esperam junto de Câmaras Munincipais ou outros polémicos lugares de encontro de gentes importantes. Outras foram as alterações, que não merecem ser citadas, visto estarem subentendidas na sociedade actual.
Sendo assim, durante a minha efémera juventude, e já com alguma experiência a nível profissional do ramo que escolhera, contraí violentamente o vírus da sida. Ainda hoje sou portadora de HIV, acção que não me afecta visto que o vírus não se manifestou a meu desagrado.
Descobri este facto aos meus 17 anos, meses depois de me ter iniciado no Mundo da Prostituição. Naquele ano foram iniciados os testes que acusavam a posse, ou não, do vírus. Apesar de na altura ficar alarmada, com o medo da minha ignorância no que respeita a doenças sexualmente transmissiveis, hoje em dia o porte de HIV tornou-se como uma arma de vingaça, contra todos os Senhores da alta, que se julgavam donos de si mesmos. Para ser sincera, não fosse Miguel Trindade, estaria hoje casada, com filhos e netos, fingindo uma falsa felicidade de dona de casa. Agradeço o papel de Trindade, no que toca ás decisões que por ele tomei, e os caminhos que por ele percorri.
Contrandizendo-me á fatisfação que tinha em exercer o árduo trabalho de prostituta, consumia um tal ódio e revolta que utilizava o meu vírus como uma serpente utiliza o seu veneno. Achava-me no direito de contaminar a população inteira. Fazia de propósito o não emprego de preservativo no dia-a-dia, e reconhecia que certos Senhores, ao fim de um tempo, deixavam de frequentar o Albergue de Maria do Carmo. Esta, não só foi uma das minhas vinganças contra os frequentadores do albergue, como foi uma das causas do fim do mesmo.
Bizarro o tempo de Relações Públicas, no famoso albergue de Emília do Carmo. Tempo necessário á aprendizagem de um Como ganhar o melhor da vida, no menor espaço de tempo. Recordações da altura, revelam o orgulho que tinha em ser uma mulher da vida. Sentia-me a rainha do meu Mundo, onde todos os pobres necessitados que ali paravam, me imploravam pelo prazer que só eu poderia dar. Estava nas minhas mãos extinguir, por momentos, a penúria de prazer que ganharam em casa.
Os quartos cheiravam a Afrodite. Os lençóis das camas não escondiam todo o suor, todo o fluído e todas as lágrimas de revolta da profissão, que ali se entranharam.
Poucos eram os segredos que tal profissão escondia. No Mundo da prostituição não havia lugar para partilhas e afectos. Tudo era promíscuo. Tudo era sexo.
As comerciantes, como se de empresárias se tratasse, eram rainhas do império onde os fregueses mendigavam por satisfazer fantasias inventivas. Elas eram o poço do prazer, que muitas outras lá foram invejavam e por medo ou dignidade se recusavam a admitir. Os grande Senhores que por lá passavam, esses nunca revelavam a sua verdadeira identidade, chegando até fingindo ser quem não eram.
Dois anos durou a minha escravidão no albergue de Emília do Carmo. Dois penosos anos, que me marcariam para o resto da minha vida, sem eu nunca suspeitar.
E foi aquele desejo insaciável que fez com que eu voltasse a cair na tentação do passado.
E foi na certeza que é bom pecar, que singelamente atingi violentamente com três fortes pancadas, a porta da casa de Miguel Trindade. Dezasseis anos, e uma semana.
No fogoso desejo de possuir o meu galanteador, sem olhar a quem, sem me deter, sem nunca pensar no que me esperaria por detrás daquela forte porta de madeira dócil, me senti desesperada.
Esperei, aguardei e por fim conjecturei uma falsa perfeição do Senhor bem formado, que o transacto me tinha oferecido a conhecer.
Naquela noite incandescente de amor, singular a qualquer uma, quando Miguel Trindade desventrou o seu objecto aliciado de paixão, ausentou-se para um nunca mais voltar.
Assim, dois meses tardios, sem nunca ter desistido da porta daquele, cujo faliu a minha santidade, decidi reviver todo o tempo perdido. E maldita seja a hora que conheci Emília do Carmo. Aquela Mulher, sinónimo de Pecado e comerciante de deleite e excitação. Dona do albergue da cidade, que alicia qualquer ser com as suas propostas obscenas e imorais. Assim fui eu sardinha em alto mar, pescada pela grande embarcação da prostituição. Na ingenuidade da altura, acompanhada pela falta de maturidade e consciência, deixei-me dominar pelo negócio impúdico e ordinário, no qual os fregueses eram tão generosos como hipócritas, nauseabundos e sebentos. A verdade é que a minha aptidão para o ramo se revelou excepcional, e devo-o a Miguel Trindade. Rapidamente substituí o lugar de Emília do Carmo, como Relações Públicas (não Púbicas...). Dois anos mais tarde, seria eu, a dona e chefe do meu próprio albergue, e foi no furor desta excitação e excentricidade que, já enriquecida monetariamente, abandonei a carreira de Comerciante, onde o Prazer não era conquistado pela Paixão, mas sim Comprado pelo desejo.
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